Passaram nove anos. Por vezes parece que passaram mil e que tudo está coberto com uma camada de pó, o pó dos tempos que esbate o outrora fulgente e que suaviza o então agreste. Por vezes parece que passou tempo algum.
Disse-me então um amigo, mais experiente nisso de perder um pai, que é ferida que nunca sara. Sara; mas deixa uma cicatriz pronunciada, funda. Por vezes tão horrenda que nos é insuportável encara-la. Outras vezes, e felizmente quase sempre, não é mais do que o horizonte do que ficou para trás.
Ele era espinosista sem o saber. “O meu Deus é a Natureza. O teu é o que tu quiseres que seja”, dizia. Assim, a sua morte terá sido uma rápida libertação, uma comunhão com o Deus natural. Voga já o espírito, liberto das cinzas materiais que, por único pedido, se reduziu o corpo desalentado.
Ainda sinto a caixinha de madeira nos meus braços; ao colo. Senti verdadeiramente, enquanto o jardineiro plantava a roseira que haveria de assinalar a sua morada, que o segurava. Liberto de massa, liberto de tempo, pegava o meu pai ao colo; fechava um ciclo. Tinha, meses antes, aberto um outro ciclo; pegar os meus filhos. Este fecho perspectivava tudo e pude perceber que sentia o mesmo: amor incondicional e continuidade. Não creio que a traumatologia psíquica tenha aqui sujeito e objecto de estudo. Não quero, nunca quis, misturar a vida com a morte, tão pouco as confundo ou temo. Sinto, e talvez não explique, amor que resistiu a tudo que passou e resistirá a tudo que há-de vir. Sinto, e talvez não explique, que o meu pai teve colo, deu-me colo, dei colo aos meus filhos, dei colo ao meu pai, os meus filhos darão colo aos meus netos, me darão colo os meus filhos…
Disse-me então um amigo, mais experiente nisso de perder um pai, que é ferida que nunca sara. Sara; mas deixa uma cicatriz pronunciada, funda. Por vezes tão horrenda que nos é insuportável encara-la. Outras vezes, e felizmente quase sempre, não é mais do que o horizonte do que ficou para trás.
Ele era espinosista sem o saber. “O meu Deus é a Natureza. O teu é o que tu quiseres que seja”, dizia. Assim, a sua morte terá sido uma rápida libertação, uma comunhão com o Deus natural. Voga já o espírito, liberto das cinzas materiais que, por único pedido, se reduziu o corpo desalentado.
Ainda sinto a caixinha de madeira nos meus braços; ao colo. Senti verdadeiramente, enquanto o jardineiro plantava a roseira que haveria de assinalar a sua morada, que o segurava. Liberto de massa, liberto de tempo, pegava o meu pai ao colo; fechava um ciclo. Tinha, meses antes, aberto um outro ciclo; pegar os meus filhos. Este fecho perspectivava tudo e pude perceber que sentia o mesmo: amor incondicional e continuidade. Não creio que a traumatologia psíquica tenha aqui sujeito e objecto de estudo. Não quero, nunca quis, misturar a vida com a morte, tão pouco as confundo ou temo. Sinto, e talvez não explique, amor que resistiu a tudo que passou e resistirá a tudo que há-de vir. Sinto, e talvez não explique, que o meu pai teve colo, deu-me colo, dei colo aos meus filhos, dei colo ao meu pai, os meus filhos darão colo aos meus netos, me darão colo os meus filhos…
Comentários
Um abraço
Marta