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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2006

Uma sande frustrada...

Afonso: - Vou mas é comer este pão congelado. Leonor: - Mano! Também quero. Afonso: (Corta, a custo, uma fatia e dá-lhe uns segundos de agitação molecular) - Toma Leonor. Leonor: (A chorar) - Este pão não tem gelado!!!

Burros.

Apercebi-me que, por verdadeiros que continuem, certos ditados poderão estar desajustados da realidade que pretendem reflectir. "Um burro carregado de livros, é um doutor", pode muito bem ser um deles. Pensei então que melhor seria trazer essa verdade universal para os dias de hoje da seguinte forma: "Um burro carregado de computador portátil é um engenheiro informático; se carregar um macintosh, é um designer".

O homem da praia (4)

Mares diferentes ensinam coisas diferentes a homens diferentes. Ao da Murtosa, que o silêncio das imensidões árcticas é falsa calma; ao das Fidji, que o arpão não basta para o afastar o tigre; ao Nórdico, que há uma cilada atrás de cada onda; ao Caribenho, que a fartura dum mar de cristal é ilusória; ao japonês, que toda a tecnologia é pouca quando os Kami sopram da China. Mas há uma coisa que todos os pescadores aprenderam, seja qual for o professor, que o mar vence sempre, não adianta combatê-lo. O homem tinha aí uns dez anos de mar a sério. Saíram cedo, muito cedo, como de costume. Mar chão, firmamento tão limpo que mesmo sem lua se via quem à duna assomava; homem e irmãos preparados para uma madrugada pacata, quase de descanso, a pescar fanecas de quilo. Não era sempre, mas quando lhe batia e sem saber bem porquê, rumava a um pego e à linha, que outra maneira não aceitava, arrancava às funduras, gordas fanecas; Trisopterus Luscus que, por via da súbita quebra de pressão, visto hab

O homem da praia (3)

O tempo, a experiência e a destreza fizeram do homem um pescador exímio. Após a reforma do pai, passou a comandar a companha de irmãos. Todos encararam esta usurpação como algo natural, dado que, andava ainda o pai no barco, e já era ele quem escolhia pesqueiros, avaliava marés, antecipava borrascas; igualmente o que negociava preços de iscas e cabazes, aparelhos e combustíveis. Depois da tragédia com o barco do Zé Russo, de que só um caixote foi encontrado, obrigou os irmãos, e ele, a vestirem coletes salva vidas e a, no sossego de uma enseada, deitarem-se ao mar, barco virado e tudo, como treino para horas mais difíceis. A sua companha era a mais bem sucedida. Peixe, muito peixe, graúdo e variado, levantaram, àquela família, o jugo pesado do armador. Compraram barco e aparelhos; eram livres. À tarde, enquanto se remendavam as redes, calafetavam os barcos ou simplesmente se bebia vinho por entre batidas de sueca, o homem contava histórias. Todos os dias contava uma diferente. Todas so

O homem da praia (2)

Há anos, sei lá quantos, quando o homem não ainda era um homem senão na sua potência, quando era um ainda menino, brincava na mesma praia, empoleirava-se na mesma pedra e fitava o mar com os mesmos olhos. Como todos os miúdos, corria na areia molhada, jogava ao carolo, aprendia brincando a arte da pesca à linha. Sonhava em ser pescador, partir para a faina, como o seu pai e irmãos mais velhos faziam. Estava sempre presente na chegada dos barcos. Saltava de excitação só de ver os bois em manobras para trazerem a rede para o areal; uma junta nesta ponta, a outra lá mais ao longe. Lentamente, ao longo da linha da maré, convergiam para depois começarem a subir na direcção da duna. Quando via o mar a ferver pelo movimento desesperado dos peixinhos, que estavam ali estavam no prato, já não se continha. Salivava, limpava a boca com o antebraço e gritava; é peixe! é peixe! Todos riam do rapazito e diziam à mãe, peixeira filha de peixeira, que aquele daria pescador de bacalhau na Terra Nova ou