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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2006

O homem da praia (1)

Há uma praia que visito sempre que posso. É uma praia sempre deserta, com um areal limpo e alisado pela cheia da maré. O ar está sempre fresco, a maresia aviva o espírito e faz o corpo corresponder com saltos pelas pedras que a baixa-mar expõe. Procuro caranguejos por debaixo das pedras, busco camarões, peixes e estrelas-do-mar nas poças límpidas e quietas. Tenho outra vez dez, doze anos, não mais. Tudo é novo e divertido; simples e catastrófico; fascinante e aventuroso. Na falta da trupe, invento tramas diabólicas de aventuras marinhas sem par. Investem devastadoras ondas monumentais, correm torrentes de cheia capazes de aniquilar a civilização tal qual a conhecemos; salvo populações inteiras dum destino atroz. No fim, partem os larotes e os caranguejos sem sequer agradecerem. Ingratos, amanhã brinco aos pescadores de arrasto. Nessa praia só o mar fala. A sua voz ressoa, troa aos ouvidos dos inoportunos que ousam tentar sobrepor a sua voz à da dele. A princípio pode parecer excessiva,

O Patinho que grunhia (toda a história)

Como a história não estava a ter boa aceitação por parte da sua única cliente, optei por uma reformulação de registo. Cá vai, O Patinho que grunhia em versão expresso: A mamã pata pôs três ovinhos. Deles saltam três patinhos; o mano pato, a mana pata e o patinho. A mamã ficou feliz e pediu-lhes que falassem. O mano pato fez – Quá! Quá! – A mana pata fez: – Quá! Quá! – O patinho abriu o bico e fez: – Óinc! – Aí Jesus! – Disse a mãe pata. – Não pode ser patinho. Tens que falar como os teus manos. Passaram dias e chegou a altura de os patinhos irem para a escola dos patos. Lá, o professor pato perguntava e os patinhos respondiam. O mano pato respondeu – Quá! Quá! – A mana pata respondeu: – Quá! Quá! – O patinho respondeu: – Óinc! – Aí Jesus! – Disse o professor pato. – Vai-te embora. Vai-te embora. Tens de falar como os patos. A situação era difícil para o patinho. Quando começou a escola de música, o patinho achou que ia ser aí que iriam gostar dele. A professora pata, grande grasnadora,

Hoje apeteceu-me

Hoje apeteceu-me colar-me à cadeira Auto-estrada, 60 70, terceira Passa um, 90 100, quarta Passa-os a todos, 120 130, quinta Acelerar, tirar o cinto e Ligar o cruzeiro Abrir os braços e do carro, voar para fora Descolar suavemente como um veleiro Ver a estrada toda e ir-me embora Aumentar, crescer Ver a cidade, passar os dedos pelas ruas Mergulhar no mar de espuma a ferver Olhar a um lance paisagens que são tuas Aumentar, expandir Segurar o planeta na mão conhecer as plantas, os bichos, o porvir Abraçar o sol no braço da constelação Aumentar, consentir Percorrer galáxias num segundo Trespassar conglomerados, ver o Mundo Olhar nos olhos de Deus e com ele me fundir Ainda bem que não conduzi hoje Ninguém gostaria disso, pois não?

Centro de Interpretação Geológica de Canelas

Num Sábado de sol, o Zé, o Pedro e o Afonso trocaram o que seria uma manhã a dormir ou a ver televisão por uma viagem no tempo a quase 500 milhões de anos atrás. A meio caminho entre Arouca e Alvarenga, fica o Centro de Interpretação Geológica de Canelas. Um micro museu com um espólio monumental. Numa centenária pedreira de ardósias, são postos a descoberto fósseis únicos no mundo. Há mais de 450 milhões de anos, o leito de mar pouco profundo na orla do super continente Pangeia, lá para o que é agora o poló sul, viria a formar as ardósias de Canelas. Nesse mar viviam trilobites, as formas de vida dominantes de um ecossistema quase inimaginável, no período Ordovícico Médio, altura em que a vida não havia ainda conquistado a terra. Segundo Artur Abreu Sá, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e responsável pela equipa científica da nova estrutura museológica: "É um capítulo da História da vida na Terra que aqui se conta". Segundo o responsável da pedreira don

Exageros

Certo dia, viajava de combóio entre Aveiro e o Porto, quando um bacano, que estava sentado no banco oposto ao meu, saltou do que seria um sono descontraído até Gaia, para um tremendo sobressalto. – O cigarro! Você viu o cigarro que me caiu da mão? – Perguntava sem olhar para mim ou para o outro passageiro que comigo preenchia a dupla de bancos e a palermice duma viagem pára–em–todas. Estava agachado, a espreitar para debaixo do banco donde se havia catapultado, com uma mão no dito banco e a outra no meu joelho. – Ó patrão! Você estava a dormir. Não há cigarro nenhum. – Mas eu tinha-o na mão. Tem a certeza que não o viu cair? – Ouça. Está num combóio; acha que o deixavam fumar cá dentro? – O homem sabia já que não tinha tido cigarro nenhum na mão, mas ainda olhava para debaixo dos bancos. Sentou-se e não dormiu até ao fim da viagem. Fiquei intrigadíssimo com o sucedido. Assim que tive oportunidade contei a história a uma psicóloga e perguntei-lhe se aquilo de trazer os sonhos para o lad

Vila Nova de Milfontes

Num dia bom. por hoje é tudo.