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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2007

25 de Abril Sempre

— “Hoje não vou à escola, mãe?” — “Não, filho. O teu pai ligou e diz que anda uma revolução na rua.” — “Revolução, mãe?” — “Revolução, filho.” Fiquei logo a gostar do 25 de Abril. Estava uma dia lindo, soalheiro, pouco dado a abris de águas mis. Passou devagar, com o pai a telefonar para casa dizendo que tudo estava bem, para a mãe ver a televisão e ouvir a rádio. [Abro aqui um parêntesis, recto, para esclarecer algo que acho odioso e que precisa ser mudado por quem pode; só pode dizer-se ‘ouvir a rádio.’, pois ‘ouvir o rádio’ é prestar atenção ao que um electrodoméstico diz; já ‘ouvir a rádio’ é escutar o que as diferentes emissoras nos fazem chegar via ondas hertzianas; senhores do mundo, orientai vossos esforços para a resolução deste pungente problema linguístico]. Soube também pelo meu pai que o povo apoiou o golpe (sim, foi a golpe; que mesmo podre não caiu) logo que as primeiras notícias circularam e se concentraram viaturas blindadas em redor do quartel general na Praça da Repú

Acerca da dor

Passaram nove anos. Por vezes parece que passaram mil e que tudo está coberto com uma camada de pó, o pó dos tempos que esbate o outrora fulgente e que suaviza o então agreste. Por vezes parece que passou tempo algum. Disse-me então um amigo, mais experiente nisso de perder um pai, que é ferida que nunca sara. Sara; mas deixa uma cicatriz pronunciada, funda. Por vezes tão horrenda que nos é insuportável encara-la. Outras vezes, e felizmente quase sempre, não é mais do que o horizonte do que ficou para trás. Ele era espinosista sem o saber. “O meu Deus é a Natureza. O teu é o que tu quiseres que seja”, dizia. Assim, a sua morte terá sido uma rápida libertação, uma comunhão com o Deus natural. Voga já o espírito, liberto das cinzas materiais que, por único pedido, se reduziu o corpo desalentado. Ainda sinto a caixinha de madeira nos meus braços; ao colo. Senti verdadeiramente, enquanto o jardineiro plantava a roseira que haveria de assinalar a sua morada, que o segurava. Liberto de massa

Ladrar

Porque não ladra o ladrão? Porque não rouba o cão? Ainda que tire; não rouba. Pois não? Haverá neurónios na claque dos super-dragões? Quando não há jogo; onde se escondem? Onde se cultivam os manjericos? E os martelinhos; virão da china? Alguém me poderá dizer que raio anda o Rui Costa a fazer pelo benfica? Onde tinha o Pinto da Costa a cabeça quando se juntou à Carolina? Onde? Onde? Na Carolina, pois. Quem achar que o Herman é o maior, ponha o dedo no ar. Quem achar que os outros, passados 5 episódios, já disseram as piadas todas, ponha o dedo no ar! Qual será o hobby mais deprimente do mundo? Será este o texto mais deprimente de sempre? Foda-se.

Levantar

Gosto de me levantar cedo. Antes mesmo do Sol. Não gosto de ter de empurrar o lençol e sentir o fresco do ar do quarto. Gostaria de acordar já levantado, lavado e vestido. Alucinações, já falei disso, eu sei. Só que detesto ter de aprumar o corpo contrariado para fora da cama. Só a chibata de algum compromisso ou a cenoura de um dia belo lá fora me impelem a saltar da cama. Geralmente preciso de várias tentativas e de alguma motivação radiofónica para me levantar. Não faço nada sem comer bem. Comer bem é, para mim e pela manhã, tomar chá com uma nuvem de leite, comer pão com mel ou com queijo. Segue-se um café pausado, a pausa antes de tudo. Sentado no velho cadeirão de couro olhando o vazio, ou de pé, olhando a rua através do janelão da varanda. Em pé, vou controlando o progresso do Sol, se titubeia ou se vai firme no seu curso. Serve-me esta primeira pausa para pensar o dia e o que nele tenho e posso fazer. Serve também como rastilho para a primeira surpresa do dia. Já na rua, surpre

O homem pequenino

O homem pequenino olha com cara de mau. Tem aquele olhar desconfiado de quem julga que estão sempre a falar dele. Olha para os outros como se lhes fosse às trombas. O homem pequenino só sabe falar de carros ou de gajas. Quando não são gajas, são carros. Pode ser um doutor, um engenheiro. Pode ter estudado muito, mas não aprendeu nada. Pode perceber de muita coisa, mas não sabe nada. O homem pequenino amua. Fica estragado se lhe apontam as pequenas falhas. Levanta-se enfunado e volta as costas a toda a gente. Desaparece levando, contrariada, a sua pequena multidão. O homem pequenino é nojento na sua superioridade. Trata os demais com desprezo, fala por favor e passa pela vida como se fosse um frete. O homem pequenino coça o cu como toda a gente. Mas ai de quem disser que o viu coçar-se. Diz que não, insurge-se, ameaça e justifica as unhas negras com o trabalho no campo que não tem. O homem pequenino nu, é horroroso. Mas isso vocês já sabiam. O homem pequenino só come merda. Até o que be