— “Hoje não vou à escola, mãe?” — “Não, filho. O teu pai ligou e diz que anda uma revolução na rua.” — “Revolução, mãe?” — “Revolução, filho.” Fiquei logo a gostar do 25 de Abril. Estava uma dia lindo, soalheiro, pouco dado a abris de águas mis. Passou devagar, com o pai a telefonar para casa dizendo que tudo estava bem, para a mãe ver a televisão e ouvir a rádio. [Abro aqui um parêntesis, recto, para esclarecer algo que acho odioso e que precisa ser mudado por quem pode; só pode dizer-se ‘ouvir a rádio.’, pois ‘ouvir o rádio’ é prestar atenção ao que um electrodoméstico diz; já ‘ouvir a rádio’ é escutar o que as diferentes emissoras nos fazem chegar via ondas hertzianas; senhores do mundo, orientai vossos esforços para a resolução deste pungente problema linguístico]. Soube também pelo meu pai que o povo apoiou o golpe (sim, foi a golpe; que mesmo podre não caiu) logo que as primeiras notícias circularam e se concentraram viaturas blindadas em redor do quartel general na Praça da Repú
um edifício mental construído para manter acesa a chama e reforçar a confusão