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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2006

Sobre sexo… dos anjos

Há meses, talvez anos, que não passava pela Capela das Almas, na rua de S.ta Catarina, e olhava. Há dias passei, e olhei os belíssimos azulejos que só em 1929 foram adicionados à Capela cuja construção data de princípios do Séc. XVIII. Representam a vida e padecimento dos dois Santos lá adorados; S. Francisco de Assis e, claro, S.ta Catarina. Desconheço se S.ta Catarina de Alexandria, mandada decapitar pelo imperador romano Maximus e cujo corpo desapareceu misteriosamente do seu túmulo, para aparecer a milhares de kms de distância, no Monte Sinai, ou S.ta Catarina de Siena, talvez a primeira anoréctica que se conhece, que viveu uma vida de caridade para com os pestilentos e, diz-se, convenceu Gregório XI a deixar Avinhão e regressar o papado a Roma. De S. Francisco de Assis, nada há a dizer, senão talvez, tudo a aprender. Dizia que passei pela Capela e olhei. Olhei e fiquei inquieto com a revelação que me faziam os azulejos; os anjos têm umbigo. Não sei se todos o têm, mas aqueles têm-

Deuses das coisas pequenas

Na ânsia de compreender e sossegar, criamos deuses como resposta às grandes dúvidas, aos grandes tormentos, à enorme pena que é a existência. Tão bem os criamos para tão grandes tarefas e tão bem os aceitamos que somos agora sua grande criação, complacentes perante o seu juízo e critério, justificados na sua existência. Os deuses fizeram o mundo todo e fizeram-nos a todos no mundo de modo a não termos dúvidas de como aqui chegamos, o que fazer enquanto por cá andarmos e depois de morrer, para onde vamos. De todas essas grandes coisas os deuses se ocuparam, e se ocupam, uns mais sectoriais, outros mais abrangentes. E das coisas pequenas? Haverá deuses do pequenino? O deus que é só carinho e que puxa suavemente os cantos à boca dos bebés que dormem; A deusa que é só sopro e que enfuna as folhas caídas num trilho de floresta fazendo-as rodopiar; A deusa que é só água e que faz com que o fresco da manhã pareça um gelado ou um batido de canela; O deus pequenino que cavalga o gatinho que bri

Das coisas inúteis...

... que dão imenso prazer. Há dias, perguntou-me o meu filho que nome se dava ao ponto da órbita da Lua em que esta está mais próxima da Terra. Cheguei a três nomes: Perigeu, Apogeu e Hipogeu. Perigeu , do grego perígion (perto da terra), designa o ponto em que a órbita de um astro mais se aproxima da Terra. Daí que o ponto da órbita da Lua mais próximo da Terra, se designe por perigeu lunar. Imagina-se facilmente como se formou esta palavra se nos lembrar-mos das palavras: perímetro e geografia. Apogeu é o ponto da órbita de um astro mais longínquo da Terra; sendo o apogeu lunar o ponto da órbita da Lua mais distante da sua âncora astral. Quando um inglês procura desculpar-se (afastar-se) da responsabilidade, diz: “Please accept my apologies.” Hipogeu é um túmulo subterrâneo. Extensivamente, pode designar adega, celeiro, cave ou túnel. Para além da botânica, onde também tem significado próprio, hipogeu era o nome dado pelos romanos aos dois pisos subterrâneos do Coliseu, de onde er

O Patinho que grunhia (2)

Estremunhado, o patinho bicou, bicou, bicou e furou a casca com tamanha força que saltou para fora dela, dando duas cambalhotas na palha fofa do ninho, aterrando de bico. O ganso o apreçou-se a examinar o bichinho de alto a baixo, não tivesse ele partido uma asita ou torcido o fino pescoço. Está tudo bem, disse e entregou o patinho à mãe que segurava já os três irmãos. Os patinhos olhavam a mãe e a mãe olhava os patinhos; tão fixamente se olhavam que mais parecia serem os únicos na imensa capoeira. Os cientistas que estudam o comportamento animal chamam a este processo fixação, que faz com que, seja pato, seja crocodilo, os animaizinhos sigam a mãe para todo o lado, e a mãe, herbívora ou predadora, se sente obrigada a protege-los, por maior que seja o perigo. Seja qual for o nome, mãe e filhos sabem que é amor de que se trata. Vendo os bebés cansados por tanta agitação, pai pato mandou todos de volta aos seus afazeres; a camareira voltou às lides da capoeira, o mordomo foi para o lago

O Patinho que grunhia (1)

Era uma vez uma mãe pata e um pai pato. Juntos fizeram um ninho onde a mãe pata colocou quatro ovos. Estes patos não eram uns patos quaisquer, não senhor, eram patos reais, senhoriais e territoriais. Tinham uma capoeira só para si no meio de um grande cercado e acesso exclusivo ao lago. Por cima do portão da entrada, o pai pato mandou gravar uma lápide com a sua real origem: Reino: Animalia;?Filo: Chordata;?Classe: Aves;?Ordem: Anseriformes;?Família: Anatidae.?Era primo afastado do Tio Patinhas e a mãe pata filha de um mandarim chinês muito famoso. Reais que eram os pais, também os ovos o eram, e todos os cuidados eram poucos para que os patinhos e patinhas dentro deles se desenvolvessem nas melhores condições. O ganso mudo, bicho de poucas falas, inspeccionava os ovos diariamente. Médico licenciado pela universidade dos bichos, escutava ovo a ovo com um estetoscópio de ovos e colocava-os contra o sol para, aproveitando a translucidez natural das cascas finas, confirmar o vigor dos pat

Saber

Ouço todos os professores, de todos os graus de ensino, dizerem que os seus alunos nada sabem, que se não lhes pode alongar o discurso sem que se percam ou aprofundar as matérias sem que se confundam. Queixam-se ainda que vêm mal preparados, que não dominam os conhecimentos base, obrigatoriamente adquiridos em etapas anteriores e que não têm nem hábitos, nem métodos de estudo. Será fácil a qualquer um apontar um caso, ou dois, deste ou daquele licenciado, nesta ou naquela ciência, que é, como alguém já disse, um analfabeto especializado; poderá mesmo haver alguém que tome este ou aquele caso e o generalize ao todo da população licenciada; poderá ou não ter razão, dependendo de quem lha dá. Se apontarmos o olhar para os que não concluíram a escolaridade obrigatória, os exemplos serão porventura mais abundantes e mais marcantes, logo mais simples de apontar, referir e generalizar. Que a educação vai mal; que o facilitismo impera; que as políticas postas em prática são sempre as erradas