Certo dia, viajava de combóio entre Aveiro e o Porto, quando um bacano, que estava sentado no banco oposto ao meu, saltou do que seria um sono descontraído até Gaia, para um tremendo sobressalto. – O cigarro! Você viu o cigarro que me caiu da mão? – Perguntava sem olhar para mim ou para o outro passageiro que comigo preenchia a dupla de bancos e a palermice duma viagem pára–em–todas. Estava agachado, a espreitar para debaixo do banco donde se havia catapultado, com uma mão no dito banco e a outra no meu joelho. – Ó patrão! Você estava a dormir. Não há cigarro nenhum. – Mas eu tinha-o na mão. Tem a certeza que não o viu cair? – Ouça. Está num combóio; acha que o deixavam fumar cá dentro? – O homem sabia já que não tinha tido cigarro nenhum na mão, mas ainda olhava para debaixo dos bancos. Sentou-se e não dormiu até ao fim da viagem.
Fiquei intrigadíssimo com o sucedido. Assim que tive oportunidade contei a história a uma psicóloga e perguntei-lhe se aquilo de trazer os sonhos para o lado de cá tinha nome. Respondeu-me que sim, que tinha nome; chamou-lhe alucinação hipnagógica, que é uma perturbação do sono associada a estados de ansiedade em sujeitos assintomáticos. – Ahhh! – Disse-lhe eu de forma entendida. Disse ainda, ela, que é mais frequente entre narcolépticos. – Pooois! Narcolépticos. – Depois apontou exemplos de pessoas que sonham vestir-se e, depois de se levantarem, saem à rua de pijama, ou pior. Se bem que, procurando melhor, julgo que este tipo de fenómenos, na transição do sono para o estado de vigília, se classifiquem como alucinações hipnopompicas. Mas quem sou eu; o mais certo é estar errado, ou pior, incorrecto. Fechou a exposição dizendo que também o stress pode contribuir para este tipo de episódios que, acrescentou, não são necessariamente patológicos. Fica esta exposição à laia d’O Código de d’Vinci, ou seja, se escreveres de forma séria e com pseudo-ciência, acreditam logo em ti; quem não percebe nada destas coisas, diz: – Olha que o gajo é do camandro, hein? É disto e de lagares de azeite. – Quem percebe, nem imagino os epítetos com que me vão brindar.
Curioso para mim que nunca tive cenas destas, ou se tive não me lembro, o exagero dos ‘psis’ ao classificarem estas coisas desta forma: – Alucinações. – Senão vejamos, o bacano chega cansado depois de um dia de trabalho na vivenda de um cardiologista, às ordens dum pato bravo barrigudo; alapou-se no banco e aterrou. Eis o filme: Já se via sentado em frente ao televisor; ok. Tinha tirado os xanatos, pousado a bejeca e puxava uma passa; tudo normal. Depois, começa a ver que o slb não joga nada e dá-lhe sono; banal, acontece sempre. Fecha os olhitos, deixa cair a mão sobre o braço da poltrona e desliga; a quem é que isto não acontece? Entra a cabra da patroa, a berrar-lhe ao ouvido que a porcaria da carpete está a arder e o desgraçado salta! Aliás, só não saltava se fosse boi manso ou monje zen. Acordou, e os berros da mulher ainda a ecoarem-lhe nos ouvidos não o deixavam pensar; põe-se a procurar a barona, para minorar os danos e não ter de aturar a gaja mais do que o estritamente necessário para que lhe passe a roupa a ferro e lhe ponha o tacho na mesa, a horas. Digam lá se isto não é normal? É claro que é normal. Vem agora um ‘psi’ e diz que a reacção natural, lógica dum guerreiro com instinto de sobrevivência apurado, é uma alucinação. Tá mal. Tá, mal.
Fiquei intrigadíssimo com o sucedido. Assim que tive oportunidade contei a história a uma psicóloga e perguntei-lhe se aquilo de trazer os sonhos para o lado de cá tinha nome. Respondeu-me que sim, que tinha nome; chamou-lhe alucinação hipnagógica, que é uma perturbação do sono associada a estados de ansiedade em sujeitos assintomáticos. – Ahhh! – Disse-lhe eu de forma entendida. Disse ainda, ela, que é mais frequente entre narcolépticos. – Pooois! Narcolépticos. – Depois apontou exemplos de pessoas que sonham vestir-se e, depois de se levantarem, saem à rua de pijama, ou pior. Se bem que, procurando melhor, julgo que este tipo de fenómenos, na transição do sono para o estado de vigília, se classifiquem como alucinações hipnopompicas. Mas quem sou eu; o mais certo é estar errado, ou pior, incorrecto. Fechou a exposição dizendo que também o stress pode contribuir para este tipo de episódios que, acrescentou, não são necessariamente patológicos. Fica esta exposição à laia d’O Código de d’Vinci, ou seja, se escreveres de forma séria e com pseudo-ciência, acreditam logo em ti; quem não percebe nada destas coisas, diz: – Olha que o gajo é do camandro, hein? É disto e de lagares de azeite. – Quem percebe, nem imagino os epítetos com que me vão brindar.
Curioso para mim que nunca tive cenas destas, ou se tive não me lembro, o exagero dos ‘psis’ ao classificarem estas coisas desta forma: – Alucinações. – Senão vejamos, o bacano chega cansado depois de um dia de trabalho na vivenda de um cardiologista, às ordens dum pato bravo barrigudo; alapou-se no banco e aterrou. Eis o filme: Já se via sentado em frente ao televisor; ok. Tinha tirado os xanatos, pousado a bejeca e puxava uma passa; tudo normal. Depois, começa a ver que o slb não joga nada e dá-lhe sono; banal, acontece sempre. Fecha os olhitos, deixa cair a mão sobre o braço da poltrona e desliga; a quem é que isto não acontece? Entra a cabra da patroa, a berrar-lhe ao ouvido que a porcaria da carpete está a arder e o desgraçado salta! Aliás, só não saltava se fosse boi manso ou monje zen. Acordou, e os berros da mulher ainda a ecoarem-lhe nos ouvidos não o deixavam pensar; põe-se a procurar a barona, para minorar os danos e não ter de aturar a gaja mais do que o estritamente necessário para que lhe passe a roupa a ferro e lhe ponha o tacho na mesa, a horas. Digam lá se isto não é normal? É claro que é normal. Vem agora um ‘psi’ e diz que a reacção natural, lógica dum guerreiro com instinto de sobrevivência apurado, é uma alucinação. Tá mal. Tá, mal.
Comentários
Nao me parece!! Pois eu estou a ler e a linguagem é tudo menos técnica...
Ou achas que com linguagem técnica ele conseguia ter os milhoes de leitores que teve??
Ele pos a mao na ferida!! Ok, tem algumas imprecisões, mas ninguem é perfeito...
...Nem mesmo Jesus...