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Um novo olhar

Sempre achei, como gajo que sou, o acto da maternidade um verdadeiro nojo. Os gritos, o sangue, o suor e as lágrimas, o bebé todo porco. Uma verdadeira imundice, um mau começo para preparar o neo-nato, não vá a vida ser madrasta e assim, começando mal, já não haverá grande diferença para o que vem.
O quanto me enganei. Se novamente me cruzar com imagens de um parto, irei vê-lo como um acto de absoluta entrega e amor supremo. A respiração profunda domestica a contracção, o caos desvanece perante a ordem de expulsão. Após horas de ansiedade e contracções, poucos minutos separam a mãe do filho, poucos minutos aproximam a mãe do filho.
Respira, Respira. Ri, Ri. Mais uma contracção, respira. Agora, puxa! E ela nasceu. E todos riem, dão graças. Só ela chora. Primeiro como que a experimentar, depois com mais certeza, até o seu choro ser o único som audível. É um choro bom, reconfortante. Tem frio, vem suja de gordura e sangue, é linda.
As lágrimas rolam, a garganta fecha. O mais cúmplice dos olhares é trocado. Diz: amo-te. Há tanto tempo que te espero. Bem-vinda minha filha. Vem conhecer a tua mãe.

Comentários

Anónimo disse…
não é para isso que nascemos afinal? ou não é isto o que sentimos nesse instante — a necessidade inegável que temos de completar-nos no amor dos outros? e há alguma coisa que nos aqueça mais o coração do que ver o amor nos olhos dos nossos filhos, no seu abraço terno e desesperadamente apertado?

felicidades para o vosso lar

Eustáquio

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