Avançar para o conteúdo principal

Ate onde o pensamento levar

Imagem obtida no site oficial do pcp.
Falei há pouco com um familiar que foi literalmente empurrado pela mulher para a festa do Avante. Gajo refinado pelo trabalho e pelo contacto com estratos sociais que não o seu, fixaram nele uma aversão ao comunismo e aos comunistas, um quase McArtismo, que o leva a repudiar não só a ideologia, mas também os seus adeptos e o seu património.
Embora avesso ao geral, é capaz de reconhecer valor ao particular. "Este comuna é um tipo porreiro". Ou então: "Os vermelhos sabem trabalhar nas câmaras". O mesmo se passou com a festa. Partiu triste como a noite, arrancado ao sofá ante a ameaça da suspensão dos deveres conjugais. Entrou no recinto achando que o prato do dia seria menino no churrasco. Sustinha a respiração e colava os braços ao corpo para não se denunciar e ser deportado, ou pior.
Mas logo olhou em volta, descontraiu, impregnou-se do calor humano que o envolvia e esqueceu. Como quando, num dia de sol, se entra na garagem ou escadas do prédio, os olhos cegos a principio, vão lentamente se habituando ao local. Primeiro vultos, o geral, depois pormenores, o que conhecemos e faz aquele lugar familiar. Estava já a desfrutar da festa e totalmente rendido à organização, aos eventos, à juventude, quando lhe liguei para dizer que o tinha visto num directo da RTPN. "Não pode ser! O pessoal na empresa vai perguntar o que andava lá a fazer. Não me viste, pois não?" Não, não o tinha visto. Foi apenas pretexto para lhe telefonar. Falou-me da festa, do ambiente, da agradável surpresa e do prazer que tinha em lá estar. Terminamos a conversa e despedimo-nos. O pensamento levou-me até uma comparação muito triste, mas verdadeira. A festa do Avante é como os filmes pornográficos. Todos gostam de os ver, mas poucos gostam que se saiba e muito menos o apregoam.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Lançamento de livro Manual do Suicida

É com o sentimento que reflecte a foto que agradeço a todos quantos estivam comigo. Até à próxima. p az.

Da crueldade e da piedade — se é melhor ser amado ou temido

Mesmo não sendo principes, vale muito a pena ler e concluir pela nossa cabeça. Só pela nossa cabeça. MAQUIAVEL, Nicolau. Da crueldade e da piedade — se é melhor ser amado ou temido In: O príncipe. (trad. Olívia Bauduh) São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores). Excerto d'O Príncipe (Cap. XVII) de Nicolau Maquiavel Continuando na apresentação das qualidades mencionadas, digo que cada príncipe deve preferir ser reputado piedoso e não cruel; a despeito disso, deve cuidar de empregar adequadamente essa piedade. César Bórgia , embora tido como cruel, conseguiu, com sua crueldade, reerguer a Romanha, unificá-la e guiá-la à paz e à fé. O que, bem analisado, demonstrará que ele foi mais piedoso do que o povo florentino, o qual, para fugir à fama de cruel, permitiu a destruição de Pistóia. Ao príncipe, assim, não deve importar a pecha de cruel para manter unidos e com fé os seus súbditos, pois, com algumas excepções, é ele mais piedoso do que aqueles que, por clemência em dem

Infecção 1

Sempre fui um vampiro. Durante mais de 10 000 anos existi numa não vida, como um não ser. Era perfeito, era equilibrado, era belo na certeza das coisas eternas. Eras passaram por mim sem que desse conta ou sentisse sequer cansaço ou fastio. Renovaram-se, evoluíram, homens e demais bichos, moveram-se montanhas, secaram e encheram-se rios. Tudo perante mim surgia, por mim passava e por fim desaparecia. No ininterrupto ciclo da existência só eu permanecia. Sem ser um Deus, era mais do que um homem; tendo sido um homem, cumpri a aspiração destes, libertando-me das grilhetas do efémero. Já me tinha esquecido de como era sentir a vida; já se apagara o pulsar do sangue nas veias, da fome, do calor ou do frio, do chão duro sob os pés; já tinha abandonado o desejo de possuir; já tinha entregue a paixão de ser; já tinha perdido a memória dos filhos que vi nascer e criei. Era uno com o mundo, embora ele me temesse e amaldiçoasse. Não queria o mal dos homens, amava-os na condição de alimento, na c