Estremunhado, o patinho bicou, bicou, bicou e furou a casca com tamanha força que saltou para fora dela, dando duas cambalhotas na palha fofa do ninho, aterrando de bico. O ganso o apreçou-se a examinar o bichinho de alto a baixo, não tivesse ele partido uma asita ou torcido o fino pescoço. Está tudo bem, disse e entregou o patinho à mãe que segurava já os três irmãos. Os patinhos olhavam a mãe e a mãe olhava os patinhos; tão fixamente se olhavam que mais parecia serem os únicos na imensa capoeira. Os cientistas que estudam o comportamento animal chamam a este processo fixação, que faz com que, seja pato, seja crocodilo, os animaizinhos sigam a mãe para todo o lado, e a mãe, herbívora ou predadora, se sente obrigada a protege-los, por maior que seja o perigo. Seja qual for o nome, mãe e filhos sabem que é amor de que se trata. Vendo os bebés cansados por tanta agitação, pai pato mandou todos de volta aos seus afazeres; a camareira voltou às lides da capoeira, o mordomo foi para o lago catar as folhas que lá boiavam e o ganso voltou ao consultório. Ficaram os pais aninhados lado-a-lado e, no quentinho do seu meio, porque as noites ainda eram frescas, os quatro patinhos dormiam o primeiro sono fora da casca.
No dia seguinte, os pais levantaram-se com os primeiros raios do dia. Aqueles raios que o sol manda à frente a avisar que, mais cinco ou dez minutos, estará a brilhar com força sobre a terra. Os patinhos dormiam um sono que só um pato nascido no dia anterior era capaz de dormir. O pai queria acorda-los, aquelas coisas de levantar cedo e cedo erguer, mas a mãe não deixou. Ficaram a ver o sono dos filhos, caladinhos, esperando que a fome os despertasse.
(continua)
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