Sempre achei, vou ser benevolente, estranha a conversa de artista; pintor, músico, escultor, actor, escritor. Vejo as interpretações que fazem sobre as suas obras, aquele derramar de frases não encadeadas, a fuga para a incompreensão, a abstracção do inefável, e pergunto o querem estes gajos da vida e quem julgam eles que os outros são? Enfim, achava-os uns cocós, tapando, com a cumplicidade dos críticos, o olho ao Zé, em mais do que um sentido. E faziam-no, observe-se o descaramento, sob uma máscara de enrrabichamento, paneleirismo profissional, quiçá verdadeiro, como que a compor o ramalhete e a tornar mais, alternativo, individual e extraordinário, o que, no fim de contas, não passa de um vulgar mortal. Um pouco como dar relevo a uns pequeníssimos olhos castanhos, tapando-os com uns grandes, caros, escuros e enigmáticos óculos de sol.
Mas não é que desde que comecei a escrever, encontrei em mim pontos de contacto com essa corja? Razões se me afiguram que mais ninguém entende, caminhos se me abrem por onde outros apenas vêm sebes e escolhos, sumptuoso humor onde o vizinho encontra apenas mau gosto, ou pior, indiferença, beleza onde via miséria, desolação no mais cândido dos olhares. Estarei a abichanar?
Mas não é que desde que comecei a escrever, encontrei em mim pontos de contacto com essa corja? Razões se me afiguram que mais ninguém entende, caminhos se me abrem por onde outros apenas vêm sebes e escolhos, sumptuoso humor onde o vizinho encontra apenas mau gosto, ou pior, indiferença, beleza onde via miséria, desolação no mais cândido dos olhares. Estarei a abichanar?
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