Falei há pouco com um familiar que foi literalmente empurrado pela mulher para a festa do Avante. Gajo refinado pelo trabalho e pelo contacto com estratos sociais que não o seu, fixaram nele uma aversão ao comunismo e aos comunistas, um quase McArtismo, que o leva a repudiar não só a ideologia, mas também os seus adeptos e o seu património.
Embora avesso ao geral, é capaz de reconhecer valor ao particular. "Este comuna é um tipo porreiro". Ou então: "Os vermelhos sabem trabalhar nas câmaras". O mesmo se passou com a festa. Partiu triste como a noite, arrancado ao sofá ante a ameaça da suspensão dos deveres conjugais. Entrou no recinto achando que o prato do dia seria menino no churrasco. Sustinha a respiração e colava os braços ao corpo para não se denunciar e ser deportado, ou pior.
Mas logo olhou em volta, descontraiu, impregnou-se do calor humano que o envolvia e esqueceu. Como quando, num dia de sol, se entra na garagem ou escadas do prédio, os olhos cegos a principio, vão lentamente se habituando ao local. Primeiro vultos, o geral, depois pormenores, o que conhecemos e faz aquele lugar familiar. Estava já a desfrutar da festa e totalmente rendido à organização, aos eventos, à juventude, quando lhe liguei para dizer que o tinha visto num directo da RTPN. "Não pode ser! O pessoal na empresa vai perguntar o que andava lá a fazer. Não me viste, pois não?" Não, não o tinha visto. Foi apenas pretexto para lhe telefonar. Falou-me da festa, do ambiente, da agradável surpresa e do prazer que tinha em lá estar. Terminamos a conversa e despedimo-nos. O pensamento levou-me até uma comparação muito triste, mas verdadeira. A festa do Avante é como os filmes pornográficos. Todos gostam de os ver, mas poucos gostam que se saiba e muito menos o apregoam.
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